“Não morrer nem sempre é viver”. Essa frase de Conceição Evaristo desnuda a experiência cotidiana da população negra brasileira, com singularidades no que se refere às mulheres negras. Estar viva não significa, necessariamente, existir com dignidade, descanso, alegria e liberdade. A pergunta que ecoa é: temos nós o direito à vida plena e ao Bem Viver? É nesse abismo entre a sobrevivência e o sonho que a gente tece uma das mobilizações mais potentes e históricas desse país. Uma luta que não cabe num dia só. Ela pulsa num ritmo ancestral, a partir de reivindicações construídas coletivamente e materializadas do dia 20 ao 25 de Novembro.
Racismo Ambiental em Belém do Pará e os Desafios Colocados pela COP30
O debate sobre racismo ambiental tornou-se central para compreender como as injustiças socioambientais se distribuem no Brasil, especialmente na Amazônia urbana. O conceito, popularizado no país por autores como Robert Bullard e por movimentos negros e indígenas, refere-se à prática sistemática pela qual grupos, sobretudo populações negras, indígenas, ribeirinhas e periféricas são mais expostos a riscos ambientais e têm menor acesso a proteção, infraestrutura e políticas públicas. Em Belém do Pará, cidade-sede da COP30, essas desigualdades tornam-se particularmente visíveis, não apenas pela posição estratégica na Amazônia, mas também por uma história de urbanização marcada por profundas exclusões territoriais. Nesse contexto, a realização da conferência climática internacional pode tanto ampliar o debate quanto evidenciar ainda mais as fragilidades sociais e ambientais já existentes no território.